Entenda a marcação a mercado

Muitos investidores, inclusive os participantes do plano DF-Previdência, têm se mostrado preocupados com a baixa rentabilidade dos seus investimentos. Esse é um fenômeno que vem atingindo os planos de previdência de uma maneira geral, mas não só eles, também os fundos de investimento e as aplicações no Tesouro Direto e na bolsa de valores, por exemplo. Entretanto, ao se olhar a taxa de juros, vemos que ela está num patamar bastante alto quando se compara ao início do ano. Por que esse aumento dos juros afeta negativamente os investimentos em renda fixa? Juros mais altos não deveriam significar maior rentabilidade?
Para efeito didático, vamos concentrar nossa análise nos títulos públicos federais, o investimento mais comum em renda fixa. Como a maioria dos fundos de pensão, a maior parte dos investimentos da DF-PREVICOM se concentra em renda fixa, uma vez que é o segmento que possui ativos vinculados à inflação mais uma taxa de juros, e por isso protegem o poder de compra dos investidores no longo prazo. E a renda fixa é justamente que mais sofre o efeito do comportamento das taxas de juros no país.
Em 2021, o Banco Central vem determinando um forte aumento da taxa básica de juros no Brasil, a taxa Selic, com o objetivo de conter a alta da inflação. Em janeiro, a Selic estava em 2%, e o mercado projetava uma taxa de 3% para o fim do ano. Hoje, ela já está bem acima disso, em 7,75%, e analistas de mercado projetam que chegue, ao fim do ano, em 9,25% [i].
Para aqueles investidores que aplicarem em renda fixa a partir de agora, essas altas taxas definirão a rentabilidade de seus investimentos, e é verdade que ela será mais expressiva do que a obtida por um investidor que tivesse feito a mesma aplicação em janeiro.
O efeito adverso da alta de juros aparece, entretanto, para quem investiu em algum momento do passado, quando as taxas de juros dos títulos públicos eram mais baixas, como no início deste ano, e manteve esse investimento até agora.
Sempre que um título público adquirido a uma certa taxa passa a ser oferecido no mercado por uma taxa maior do que aquela pela qual foi comprado, esse título diminui de valor. Por isso, o investidor que tiver esse ativo em carteira vai perceber que sua rentabilidade ficou negativa.
Quando as taxas de juros de mercado sobem, seja porque há um estresse no mercado ou porque o Banco Central decide subir a Selic, os títulos públicos já existentes são reprecificados para refletir o valor atual dos ativos que estão sendo negociados no presente. E esse é um valor menor, pois o preço futuro do título sofre um desconto por uma taxa maior (a taxa de juros atual). Como resultado, seu valor presente é menor.
Por exemplo, um título público que pagará R$ 1 mil no seu vencimento, e foi comprado por um investidor quando a taxa de juros era de 2%, teve um desconto menor no momento da aquisição e, portanto, valia mais. Mas, hoje, esse ativo teria que ser descontado a 7,5% e, por causa disso, valerá menos.
Esse é o mecanismo que em finanças chamamos de “marcação a mercado” – uma maneira de dar maior transparência aos preços dos seus ativos e que, por força regulatória, deve obrigatoriamente ser feita e divulgada por gestores de recursos de terceiros, como a DF-PREVICOM. Pela marcação a mercado, os preços dos ativos refletem o valor que eles teriam se fossem vendidos hoje. Entretanto, esse é um efeito meramente contábil, pois, se não houver a venda, o preço se recuperará quando as taxas voltarem a cair e refletirá, no vencimento, os juros efetivamente pactuados no momento da aquisição.
Muitas vezes, o investidor pessoa física não percebe esse fato quando aplica no Tesouro Direto, por exemplo, porque não realiza a marcação dos seus títulos diariamente pelo valor que eles passaram a ter no mercado. Normalmente, o investidor aguarda o vencimento do título, quando, aí sim, os rendimentos serão exatamente os definidos quando ele o adquiriu.
No caso da DF-PREVICOM, que administra um plano jovem e ainda não paga benefícios, não é necessário vender esses ativos. Por isso, essa rentabilidade negativa não tem qualquer efeito econômico. Na medida em que haja uma redução nos níveis de inflação e na sua expectativa no país, e a curva de juros volte a cair, como esperado, a rentabilidade voltará a ser positiva na marcação a mercado.
Um exemplo desse comportamento pôde ser visto em 2020, quando os fundos de renda fixa tiveram rentabilidades negativas em março e abril, no início da pandemia, quando as taxas de juros de mercado subiram devido à fuga de capitais do país, e bastante positivas em novembro e dezembro, quando a situação foi controlada e os juros caíram, compensando aquelas perdas.
É importante lembrar que o atual movimento de alta de juros também prejudica negativamente a bolsa de valores no Brasil, pois aumenta o custo de financiamento das empresas. Em parte, a subida dos juros reflete também a deterioração nas expectativas sobre a economia brasileira, o que acarreta um desconto no preço das ações. Isso também contribui para uma menor rentabilidade dos planos de previdência em geral, pois os principais ativos nos quais os fundos de previdência costumeiramente investem são os títulos públicos e a bolsa de valores, ambos enfrentando agora um cenário adverso, mas transitório.
Em investimentos de longo prazo, como na previdência, performances negativas de curto prazo impactam pouco o resultado dos recursos na aposentadoria dos participantes. Por isso, movimentos abruptos na composição da carteira em momentos de baixa podem fazer com que os ativos sejam vendidos na pior ocasião, antes que se recuperem da volatilidade momentânea. Desse modo, tais movimentos bruscos são totalmente desaconselháveis.
A DF-PREVICOM mantém-se atenta ao que acontece no mercado financeiro e na rentabilidade do seu plano, e procura atuar de forma defensiva para proteger seu patrimônio, que é de longo prazo. Estamos empreendendo uma diversificação da carteira com novos produtos, e, apesar de ser um plano bastante novo, já contamos com investimentos no exterior, ações em diferentes segmentos, crédito privado e renda fixa com diferentes indexadores.
Em momentos de grande volatilidade, como o atual, é importante manter a perspectiva de que os investimentos também são de longo prazo. Além disso, sua depreciação momentânea pode representar uma oportunidade para que a Fundação aplique em ativos com preços vantajosos e que vão apresentar maior valorização no futuro.